O
sokushinbutsu é algo totalmente distinto; uma crença que envolve muita fé e
espiritualidade, sem contar, é claro, força de vontade e persistência.
Quando
se ouve falar em múmias, logo vem à cabeça as múmias dos faraós do antigo
Egito. Mas em muitos países existem uma grande variedade de múmias, inclusive
no Japão! Porém, o que diferencia as múmias budistas japonesas das demais, é o
fato de que eram mumificados quando ainda estavam vivos.
A
prática foi iniciada por um monge chamado Kuukai, fundador da seita budista
Shingon, há mais de 1000 anos atrás, no complexo de templos do Monte Koya, em
Wakayama. Em 1700 houve uma fome terrível no Japão e Kuukai decidiu que a
melhor maneira de acabar com a fome seria enterrar-se vivo. A partir de então,
ele criou o ritual de mumificação, onde ele próprio se auto mumificou.
Como era
feito o ritual.
Quando
o monge se sentia preparado, dava-se então início a um regime diferenciado,
baseado em nozes, sementes e água apenas, para que seu corpo perdesse o máximo
possível de líquidos. Ele também deveria praticar uma série de atividades
físicas rigorosas e exaustivas para queimar toda a gordura do corpo. Feito
isso, mais três anos em dieta, dessa vez de cascas de árvores e raízes,
acompanhadas de um chá venenoso feito da saliva de Urushi, uma árvore que
contém uma substância chamada Urushiol, utilizada na impermeabilização de
objetos e também para embeber pontas de lanças. O chá então causaria vômitos e
uma perda rápida e considerável de fluídos corporais, mas acima de tudo, seria
indispensável na eliminação de micróbios e vermes, pois estes são um dos
principais fatores na aceleração de deterioração do corpo após o óbito. Para a
conclusão do ritual, o monge finalmente deveria se trancar em uma tumba de
pedra na posição de lótus, completamente imóvel, e lá permanecer até sua morte.
A única conexão com o mundo fora da tumba em seu estágio de enclausuração seria
um tubo de ventilação e um sino, o qual ele deveria tocar uma vez por dia para
sinalizar que ainda estava vivo. Assim, quando o sino deixasse de tocar, os
outros monges saberiam que ele estava morto e removeriam o tubo, selando assim
a tumba por 1000 dias.
Após esse período, a tumba era aberta e o cadáver era retirado para ser limpo. Se o estado de preservação do corpo fosse bom, o monge seria considerado como um "Buda vivo".
Ao final, os olhos da múmia eram retirados, mas ainda assim eram considerados
capazes de ver nas almas dos vivos e ser capaz de perceber a realidade com
perfeição. Os acessórios que usavam antes da morte permanecem em seus corpos.
Nem
todos, é claro, concluíam o ritual com êxito, pois após retirados da tumba
depois dos 1000 dias seus corpos estavam putrificados. E por esse fato hoje
existem cerca de 24 múmias de monges, porém apenas 16 deles podem ser
visitados. O mais famoso é Shinnyokai Shonin do Templo Dainichi-Boo no Monte
Yudono. Outros podem ser encontrados em outros locais, como no Templo
Nangakuji, nos subúrbios de Tsuruoka e no Templo Kaikokuji na cidade de Sakata.
Em
1800, o governo japonês proibiu esse ritual por entender que se tratava de um
ato suicida e hoje não é mais praticada por nenhuma seita budista. Ainda bem
que aparentemente essa prática não existe mais… Pois é um ritual bem bizarro.
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